26/01/2010

somente às vezes...


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Às vezes penso que sou ar,
outras, água
horas bem devagar
presa à terra e, sem asas,
me ponho a voar.
Às vezes não quero voltar
e finjo ser o que não sou
porque é triste ser navegador
sem barco certo e vento a favor.
Às vezes sou apenas nada
e, sem nada, sigo o meu caminho.
Às vezes sou uma triste toada
perdida na mata, solada, do sozinho.
Às vezes sou chuva
e me enfeito com adereços de flor.
Mas também sou seca
e me sirvo de afã beleza
nascida da dor.
Às vezes sou interrogação
ou previsível e água-mole e vulcão.
Segredo, unidade, segregação
Pavio curto e leite derramado
no bolso escancarado de um velho blusão.
Às vezes, somente, às vezes...

(01 fev. 2007)
*Ilustração extraída do Google Imagens.

"O sonhador, em seu devaneio, não consegue sonhar diante de um espelho que não seja profundo."

(Gaston Bachelard)