18/12/2010

prosa quando arboriza é poesia



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um broto de idéia nasceu ali entre a axila e o seio esquerdo
aquele corpo branco arborizou-se sem alvoroço
arvoreou-se!

as sombras vultuosamente estenderam-se pelas calçadas
adornaram pedras
rabiscaram desenhos minerais

o corpo destravou-se da pele-casca
fez crescer uma dúvida acima das sombras
incerta, nem curvilínea, nem mesmo reta
a dúvida se alojou em um galho na altura do umbigo
ali ficara
como coisa irrigada
amparada por uma colônia de microseres
dispostos a decompor todas as certezas
uma a uma / dia a dia

em diálogos íntimos com o vento
a descortinar um balé cromático
as folhas dançaram em queda enigmática
resistiram como se pássaros fossem e nesse adejar
sussurraram poesias sobre a transitoriedade das coisas

e quando tudo virou
galhos folhas seiva síntese

nas costas
por toda ela
nasceram flores amarelas
a tergiversar verões enamorados por primaveras

sem que ninguém se desse conta

a não ser os encantados e aqueles descontados que ninguém conta
aquilo que um dia foi idéia semente
que brotou
que arborizou-se
infloresceu
virou fruta
ganhou luz singular
a cor vermelha:

deram-lhe o nome abreviado de prosa
a mais pro-saborosa prosa





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Fernando,


apreciei tanto, tanto, a sua "Prosa quando arboriza é poesia"
que a trouxe, parafraseando Marisa Monte, ao meu
"infinito particular".

Passei horas procurando uma imagem que ilustrasse um pouco
das atmosferas poéticas existentes em sua prosa
que é, simultaneamente, poesia. Entretanto, acabei optando por esta que,
embora não ilustre denotativamente a poética das cores
existente no texto, associa-se aos muitos sentidos que se pode
obter ao deixar-se enveredar pelas imagens.

Poesia - para mim -, é deleite, onirismo, sugestão...
E a lua, quando cheia, é, toda ela, poesia, assim como é a sua prosa.
Sonho.

Parabéns por tão bela criação. Ela veio morar em mim.

Abraço caloroso,
Hercília.



*Imagem sem indicação de autora, disponível no Google.
"O sonhador, em seu devaneio, não consegue sonhar diante de um espelho que não seja profundo."

(Gaston Bachelard)