22/08/2014

Desejos infantis


A cada dia me torno mais estranha. A cada dia já não reconheço a minha face adormecida na amplidão. A cada dia sinto-me menos fluída; e me nego, um pouco mais, à contemplação. A cada dia me desinteresso por coisas sensatas. E por coisas não sérias também! A cada dia apresento menos tolerância; para não dizer: desdém! A cada dia choro em meu silêncio. E clamo uma nova cor e ideia. Contrariamente, tarda-me chegar a primavera. E, com ela, a luz e a chama de uma vela. Assim os meus dias vão passando: sem serenidade, dormência ou engano. Assim os meus dias vão perdurando... (enquanto choro em meu silêncio), os meus desejos infantis e secretos planos.


h.f.
1 ago./2007



*Texto revisitado.
"O sonhador, em seu devaneio, não consegue sonhar diante de um espelho que não seja profundo."

(Gaston Bachelard)